Como se aprofundar em História diariamente
22.9.16
Esse texto foi enviado em 11 de março de 2015 em uma edição de nossa newsletter Bibliotecas do Brasil Inbox, que você pode assinar aqui. Resolvemos compartilhar esse texto sobre a importância da História para relembrar do peso que as ciências humanas têm no desenvolvimento de cidadãos ativos e combativos contra injustiças por parte de governantes não eleitos.
“Aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la”. – Edmund Burke
Em algum momento de sua vida a pergunta “de onde vim?” irá surgir, isso se já não surgiu quando algum parente contou um causo absurdo sobre um tio-avô que lutou alguma batalha em qualquer canto do mundo que não mais lhe diz respeito. Nesse momento pode ter surgido o questionamento de que rumos tomaram o mundo e as pessoas que nele habitam até chegar na sua realidade hoje em dia. Para responder essas dúvidas surgiu a História.
No mundo de hoje, existe uma pressão quase constante de sabermos de tudo, agora com a internet sempre ao alcance se você não sabe do novo lançamento da Apple, ou quem é o primeiro-ministro do Butão você pode ser considerada uma pessoa desinformada. Mas essa pressão por informações que não são relevantes para a sua realidade pode causar um excesso e a constante procura por conhecer tudo pode levar a um esgotamento.
Eu vejo a História como um refúgio dessa correria da informação superficial. Ao invés de pular de link em link sobre os últimos acontecimentos eu posso saber o que realmente é importante para mim em profundidade. Descubra na História quais são os assuntos que lhe interessam e principalmente, para conseguir ler a informação por trás das notícias que chegam até nós em abundância nos dias de hoje, para saber se quem está transmitindo aquela notícia está mostrando o lado que beneficiará seus negócios ou aliados e saber discernir entre notícia e opinião.
E justamente essa mesma tecnologia que trouxe a pressão da informação constante nos trouxe também novas fontes de conteúdo sobre a história. Hoje posso ler um livro em papel que comprei pela internet, ler artigos aprofundados online, ler em e-books os livros que não tenho acesso de forma física, ouvir podcasts de pessoas interessadas em assuntos históricos ou ouvir/assistir aulas das mais prestigiadas universidades do mundo inteiro. O mundo da informação histórica está disponível e em boa parte de forma gratuita na internet.
Para citar o meu exemplo, que sempre fui curioso - bati muitas vezes a cabeça quando criança ao tentar descobrir o que existia em locais que eu não devia entrar – no momento estou lendo em papel a biografia do Einstein para me aprofundar na história da física moderna. Estou lendo também o último livro publicado do autor Tony Judt, O Mal Ronda a Terra, sobre o que nos traz o mal-estar da modernidade, uma análise de porque as sociedades são mais ricas do que nunca, mas a diferença entre pobres e ricos só aumenta.
Já no mundo digital adoro passear pelos perfis da revista New Yorker que fazem um mergulho na personalidade retratada que nos permitem compreender boa parte do que move aqueles que despertam nosso interesse. Nos e-books estou lendo Guerras Sujas que conta a história das operações secretas militares americanas desde 11 de Setembro de 2001 e a expansão da atuação secreta dos EUA pelo mundo. Outro livro que também estou lendo no formato digital é Pós-Guerra do Tony Judt que conta a história da Europa de 1945 até os dias de hoje.
E em momentos em que não posso ler - lavando louça, arrumando a casa, antes de dormir – mergulho no filho das rádios AM, porém sem comerciais insuportáveis e que possui conteúdo específico: os podcasts. Estou escutando o podcast The History of Rome que conta a história do Império Romano, outro que ouço é o History of Philosofhy uma tentativa de falar dos principais filósofos ocidentais dos pré-socráticos até os contemporâneos e o meu podcast preferido no momento é a série do Dan Carlyn chamada Hardcore History na qual o autor pinta um quadro bem detalhado e dramático de momentos históricos, no momento ele está contando a 1ª Guerra Mundial. Todos esses programas são em inglês, mas é possível conseguir algumas fontes de informação nos podcasts em português com o pessoal do Xadrez Verbal que discute notícias de relações internacionais toda semana em formato de conversa entre amigos.
Outra fonte rica são os vídeos das aulas da Univesp sobre a História das Relações Internacionais com professor Peter Demant para um apanhado muito completo da história do mundo até a 1ª Guerra Mundial. Outra série de aulas imperdível é o curso sobre a História da América Independente da professora e doutora Gabriela Pellegrino Soares sobre a história dos países da América Latina a partir de suas independências, um ótima maneira de conhecer melhor nossos países vizinhos.
As fontes de informações históricas são abundantes e devem ser consultadas para criar uma leitura crítica do mundo que nos cerca, e também diminuir a possibilidade de ser enganado por governantes que desejam se aproveitar da memória curta e do desconhecimento da História para subir na escada do poder. E voltando à frase que abri o texto, nossa principal função como leitores e leitoras de História é não permitir que atitudes horrendas cometidas no passado se repitam nos dias de hoje, porque o tempo pode soprar para longe as memórias de quem sofreu, mas os livros de história não permitiram que essas lembranças fossem esquecidas.
*Arte: Juliano Rocha sobre foto de David Sun que retrata a escultura de Clio, musa da História, escrevendo os eventos enquanto eles acontecem do escultor Simon Willard.
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