Kit de sobrevivência à poluição sonora
7.9.15O excesso de barulho é uma forma de violência. Nós moramos em uma casa antiga, construída no início dos anos 80 que não tem como suportar os decibéis de uma rua que tornou-se a ligação entre duas das rodovias mais movimentadas que cortam Curitiba após reformas para a Copa do Mundo. Além disso, a casa está na periferia e por aqui a Prefeitura de Curitiba não coíbe a poluição sonora gerada pelo som alto em carros, sejam aqueles que resolveram irritar o mundo inteiro com sua música no último volume, ou carros com propagandas de lojas que acharam uma boa ideia gritar o preço de seus produtos na orelha dos outros. E para finalizar, no último ano um lava-car foi aberto bem próximo. O som de água pressurizada e aspirador de pó desregulado começam desde o raiar do sol até o último cliente, além da grande movimentação de carretas.
Portanto a vida de quem precisa trabalhar em casa, ler, estudar, conversar, pensar, dormir foi quebrada por completo e nos tornamos - contra a nossa vontade - nômades digitais. Um nome bonito para dizer que não possuímos um local calmo para produzir nosso conteúdo ou realizar os estudos e leituras que nosso trabalho exige. Para continuar trabalhando, mesmo com nossos deslocamentos diários atrás de silêncio, formamos com o tempo uma redação que podemos levar conosco. Temos dois notebooks e dois tablets que quebram o galho na hora que precisamos ler livros, artigos ou fazer pesquisas online (quando achamos wi-fi) e vamos nos deslocar à noite e não consideramos seguro levar notebook na mochila.
Infelizmente o acesso à internet ainda não está democratizado, o serviço de 3G é somente para uso ocasional e não para uma redação móvel como a nossa. Quando precisamos acessar a internet e não encontramos um lugar com wi-fi aberta ou gratuita, ligamos os tablets no 3G do celular e com as atualizações e dados em segundo plano, somado ao limite irrisório de dados das operadoras de celular, nosso acesso à internet vai embora em menos de 1 hora.
Estamos constantemente procurando um sinal bom e aberto de wi-fi. Nas bibliotecas que frequentamos em Curitiba somente a Biblioteca do Goethe Institut oferece uma internet rápida e gratuita (somente é preciso fazer um cadastro rápido na recepção). Na Biblioteca da Universidade Positivo a internet somente é oferecida aos alunos, deixando os usuários da comunidade leitora - a biblioteca é aberta para que pessoas de fora possam fazer consultas ao acervo - sem a opção de utilizar o local como um local para trabalho e pesquisas online. As Casas da Leitura - que são as bibliotecas municipais de Curitiba - não possuem wi-fi, perdendo dessa forma um dos papéis fundamentais das bibliotecas de serem centros não só de leitura, mas de inclusão social e democratização ao acesso à informação impressa como também à digital.
Muitas pessoas não possuem um lugar para trabalhar ou então para enviar currículos ou acessar serviços públicos que cada vez mais só são feitos online. Para todas essas pessoas as bibliotecas devem ser um local seguro, protegido do frio ou do calor, que oferece internet, energia elétrica e tranquilidade além dos livros para empréstimo. O papel atual das bibliotecas está em atender essas pessoas que possuem seus próprios celulares, tablets ou notebooks com aceso à internet com sinal de wi-fi gratuito, bem como disponibilizar alguns computadores com acesso à internet para aquelas e aqueles que não possuem esses equipamentos.
Em nossas andanças por um local que nos permita esse local de trabalho com internet, proteção e conforto já tentamos shopping centers (muito barulhentos), cafés (podemos contar nos dedos aqueles que nos permitiram uma estadia longa e confortável) e até espaços públicos como o Mercado Municipal (barulhento e sem muito conforto). Sempre levamos conosco o kit de sobrevivência dos nômades digitais que contêm:
- Protetores auriculares
- Fones de ouvido intra-auriculares
- Fone de ouvido over-ear
- Água em garrafinha
- Livros para o deslocamento
- 2 tablets
- 1 celular com acesso à internet
- Algumas balas Valda ou de gengibre para aguentar ar-condicionados desregulados
Protetores Auriculares
Testamos diversos formatos, eu não me adaptei a eles, mas a Dani não vive sem eles. No começo ela experimentou o modelo de espuma, porém eles não aguentaram o uso constante, que é o nosso caso, e acabavam deixando passar o barulho depois de pouco tempo de uso. Pesquisamos online e encontramos por acaso um protetor auricular de silicone da 3M que protege bem contra os ruídos externos, dão uma boa aliviada nos ruídos constantes, mas contra sons muito altos não possuem grande efeito, sendo necessário usar um fone over-ear com música ou ruídos da natureza sobre eles para enfrentar a poluição sonora gerada por carros com sons tunados.
Fones de ouvido over-ear
Eu utilizo mais o intra-auriculares, portanto essas opiniões são da Dani sobre os fones que ela testou ao longo desses últimos anos.
O melhor fone over-ear até agora foi o fone HP350 da RCA, que era um fone resistente e possível até de dormir com ele. É claro que ele pode gerar um certo desconforto para quem dorme de lado, mas nunca deu nenhum torcicolo. Para a quantidade de poluição sonora em nosso bairro ele precisa funcionar em conjunto com o protetor auricular. Durou mais de um ano de uso constante e pesado.
Já foi experimentado também o modelo SHL3000WT da Philips (durou só três meses até falhar o cabo e as espumas começarem a esfarelar). Ele não aguentou o tranco do uso diário, para dormir, mas serve para usos mais leves.
Fones de ouvido intra-auriculares
Eu já experimentei diversos deles, principalmente por não me adaptar aos protetores auriculares, atualmente considero o melhor fone intra-auricular o modelo T100a da JBL, ele consegue isolar bem os ruídos externos, possui uma boa qualidade sonora e é confortável para dormir.
Testei o modelo EX10LP da Sony que não durou nem três meses e o isolamento dos ruídos não era eficiente. Usei por algum tempo o modelo ATH-CLR100 da Audio-Technica que possui uma ótima qualidade sonora, bom conforto para dormir, porém o isolamento dos ruídos é bem fraco. Outro fone testado foi o Hp60A da RCA que possui uma qualidade de som muito abafada e não é confortável para dormir. Para finalizar todos esses testes experimentei o fone que veio junto com nosso tablet, que é vendido hoje em dia como o fone que acompanha o Samsung S3, e que possuía um ótimo isolamento de ruídos e era confortável para dormir, ele durou uns seis meses e nunca mais consegui comprar um com a mesma qualidade do que veio junto com o tablet, uma pena.
Espero que essas dicas te ajudem a diminuir um pouco do sofrimento que é ter de suportar a poluição sonora e consiga trabalhar/pensar/estudar com um pouco mais de conforto.
Texto e artes: Juliano Rocha - Bibliotecas do Brasil - Creative Commons
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