Bibliotecas do Brasil na Revista Fórum - Entrevista feita por Jarid Arraes
28.8.15
Olha só que chique! Saímos na Revista Fórum com uma matéria da querida Jarid Arraes, que mostrou um pouco da nossa visão do mundo sobre as bibliotecas e iniciativas de incentivo à leitura e sobre publicações independentes. Agradecemos à Jarid Arraes pela atenção, carinho, pela divulgação e confiança no meu trabalho. Agradeço em nome do Juliano também, ficamos extremamente felizes pelo espaço, e pelo reconhecimento de tudo que fazemos com o blog Bibliotecas do Brasil. Esse é o link para quem quiser ler a matéria no site da Revista Fórum, que está bem completa, confira no link:
Literatura livre para libertar pessoas
Daniele Carneiro é editora do blogue Bibliotecas do Brasil, onde dá voz a ações independentes de partilhas de livros, e coordenadora da Biblioteca Comunitária do Sítio Vanessa, onde os livros são emprestados livremente sem a necessidade de apresentar documentos. Em entrevista à Fórum, ela fala sobre seus projetos e a importância da literatura livre e acessível
Por Jarid Arraes
A leitura é algo essencial para o compartilhamento de conhecimento, o aprendizado e a formação e pode transformar não apenas o indivíduo, mas toda a sociedade. Por isso é tão importante que todas as comunidades tenham acesso aos mais diversos tipos de literatura. Esse é o pensamento de Daniele Carneiro, autora independente e editora do blogue Bibliotecas do Brasil, ao qual vem se dedicando com seu esposo Juliano Rocha nos últimos três anos. O maior objetivo do blog é dar voz a bibliotecas comunitárias, ações de partilhas de livros e projetos autônomos de incentivo à leitura, divulgando autores brasileiros independentes e iniciativas fascinantes relacionadas à literatura livre.
Além de editora do Bibliotecas do Brasil, Daniele também é coordenadora da Biblioteca Comunitária do Sítio Vanessa, onde os livros podem ser emprestados livremente sem a necessidade de documentos para todos os moradores das comunidades da Estrada de Anhaia, no Paraná – onde fica localizado o sítio. Também são realizados eventos literários para crianças das áreas rurais das localidades de Anhaia.
Entre ações e projetos, Daniele é responsável por diversas iniciativas de empréstimo e acesso livre de livros, mostrando que não é necessário esperar por ajuda de órgãos oficiais para construir uma biblioteca comunitária e ajudando as pessoas a entenderem que o acesso a livros é importante para todos. Em entrevista à Fórum, ela fala de suas experiências com o blog Bibliotecas do Brasil, sobre a Biblioteca Comunitária do Sítio Vanessa e sobre vários outros projetos.
Confira a seguir a entrevista na íntegra:
Fórum – Qual é o objetivo do blogue Bibliotecas do Brasil? Que tipos de trabalhos você fazem?
Daniele – Nos dedicamos totalmente ao Bibliotecas do Brasil, que tem como objetivo maior dar voz às bibliotecas comunitárias, às ações de partilha de livros e aos projetos de incentivo à leitura que são autônomos e independentes de partidos políticos, de candidatos e de instituições religiosas. Nós temos trabalhado nesses três anos mostrando os brasileiros e brasileiras que gostam de ler, amam estar próximos aos livros, partilham seus livros das mais variadas maneiras possíveis, arrecadam livros, montam bibliotecas e se descobrem escritores e escritoras, poetas e mediadores. Temos mostrado em nosso blogue a trajetória de várias iniciativas que só seguem adiante porque as pessoas encontram seu lugar junto aos livros e à literatura e insistem, mesmo quando enfrentam situações difíceis. Muitos projetos florescem, outros acabam e outros vão se desenrolando até se transformarem em outros projetos ainda mais incríveis.
Com a gente também está acontecendo dessa forma. Começamos como leitores, depois conhecemos uma biblioteca livre, daí montamos uma biblioteca livre em uma comunidade rural, montamos o blog Bibliotecas do Brasil, montamos uma mini-biblioteca livre em um parque de Curitiba, viramos autores independentes lançando nossos livros cartoneros, sempre estamos trabalhando com a nossa criatividade. É bonito de ver tantas pessoas encontrando o seu lugar no mundo da literatura, seja como leitoras, mediadoras, como incentivadoras da leitura, como escritoras independentes ou poetas, organizadoras de saraus, de feiras do livro, como colunistas em blog; é demais ver como esse campo dos livros, da leitura, das bibliotecas e da literatura é amplo, dinâmico e tem espaço pra tanta gente se encontrar.
Fórum – Quais são as etapas e os critérios para a divulgação de projetos?
Daniele – Nosso blog é de comunicação, independente, o mantemos com recursos próprios e com a venda de alguns produtos que produzimos e disponibilizamos online. Primeiramente fazemos um trabalho de pesquisa para encontrar os projetos mais interessantes, dedicando a essa etapa todo um tempo para busca e leitura; depois, precisamos localizar as pessoas, entrar em contato com elas por email e pelas redes sociais, aguardar as respostas e conseguir fotos bem nítidas e que deixem evidente do que se trata o projeto. Nós produzimos nossos textos e, quando é possível e está ao nosso alcance, entrevistamos pessoalmente e fotografamos as pessoas que estão envolvidas em várias modalidades de bibliotecas ou projetos. Visitamos espaços culturais, bibliotecas, minibibliotecas e já participamos duas vezes de feiras do livro.
Fórum – Qual é a importância do blog para o Bibliotecas do Brasil?
Daniele – O Juliano é responsável por toda a parte visual do nosso blog. Cada assunto que encontramos, cada texto e arte que produzimos é conversado e pensado em conjunto. Com a criação do blog eu pude me dedicar a uma das coisas que mais amo fazer, que é escrever, produzir conteúdo e trazer temas interessantes para as pessoas lerem e se entreterem. O blog me ajudou a encontrar e a entender muitas realidades difíceis que têm o livro como o catalisador de um futuro melhor, mais interessante, mais desafiador e estimulante. Com ele cresci muito, comecei a ter um entendimento maior do lugar onde eu moro e das minhas aspirações na vida. Posso dizer que muitas coisas que aconteceram na minha vida nos últimos anos só foram possíveis porque tiramos as nossas ideias e as nossas leituras do papel e passamos a partilhar com um monte de gente, principalmente nas questões relacionadas a doar, a deixar os livros livres, às ações coletivas, à partilha e à solidariedade.
No blog também trazemos muitos questionamentos sobre a função e os serviços que as bibliotecas públicas prestam, nos deparamos nesses três anos com vários profissionais, entusiastas e apaixonados por bibliotecas que nos deram uma dimensão maior do que uma biblioteca pode significar para uma comunidade. Nós temos duas colaboradoras que sempre estão nos ajudando com textos próprios, a Jacqueline Carteri da página Capitu Lê que escreve principalmente sobre acessibilidade em bibliotecas e a Leticia Fontoura do Leitura no Varal e da Ronda da Fraternidade, que leva livros, agasalhos e refeições quentes aos moradores de rua em Gravataí (RS) e região.
Fórum – Vocês possuem alguma ferramenta de comunicação fora o blogue?
Daniele – Além do blog e das redes sociais, nós passamos a conversar semanalmente com nossos leitores através de duas newsletters que produzimos.
Numa semana, a pessoa recebe uma newsletter mais dinâmica, com vários links e vídeos que nos chamaram a atenção naquele momento, e na outra semana a pessoa recebe uma newsletter mais extensa, com um texto inédito meu ou do Juliano sobre algum tema que encontramos pelo caminho e achamos interessante debater com nossos leitores. Os temas são bastante diversificados, vão desde os livros que estamos lendo, os filmes que estamos assistindo ou temas políticos que nos interessam. Desses textos que nos desafiamos a escrever semanalmente, juntamos os que consideramos os melhores num livro artesanal, que lançamos de forma independente em 2014, a Cartonera Bibliotecas do Brasil. A cartonera é feita de capa de papelão, são costuradas à mão, e as capas são totalmente diferentes umas das outras, com pinturas feitas pelo Juliano. Nós conhecemos o movimento cartonero em Porto Alegre na FestiPoa Literária através do Julio Souto da Maria Papelão Editora que faz livros cartoneros.
Fabricar livros de forma artesanal é uma atividade apaixonante, envolvente e que se relaciona perfeitamente com tudo o que acreditamos e temos difundido nesses três anos de blog. É com o recurso das cartoneras que bancamos o blog e várias de nossas despesas.
Fórum – De onde veio a ideia de montar uma biblioteca comunitária? Como começou a Biblioteca Comunitária do Sítio Vanessa?
Daniele – Essa história toda teve início bem antes, na virada para 2010 eu o Juliano passamos um período morando na casa de uma amiga que havia se mudado para São Paulo e deixou vários livros para trás. Passamos um verão inteiro lendo os livros dela e percebemos o quanto era maravilhoso ter acesso a livros tão incríveis e totalmente diferentes dos nossos. Ficamos bem impactados por essa experiência e então surgiu a ideia de partilharmos os nossos livros. Pensamos em montar uma biblioteca comunitária. Mas onde? Não tínhamos um canto nosso nem uma motivação para tocar uma biblioteca em um bairro que tem a presença opressora do crack.
Logo conhecemos a Bibliopote – Biblioteca Livre Pote de Mel, que é uma iniciativa do jornalista Alessandro Martins em Curitiba. É uma biblioteca livre onde as pessoas podem emprestar livros sem nenhum empecilho e devolver quando e se quiserem. Ela funciona de forma colaborativa dependendo sempre que mais pessoas doem livros para ela. Foi a primeira biblioteca que conhecemos nesse formato e queríamos montar uma biblioteca assim também. No ano seguinte tivemos a oportunidade de conhecer o Edemilson Pereira, ambientalista e trabalhador de uma gráfica em Morretes, que mora com sua família no Sítio Vanessa, na Estrada do Anhaia bem no coração da serra do mar do Paraná. Na primeira vez que conversamos com o Edemilson, nossas ideias bateram tão bem que eu já perguntei o que ele achava de ter uma biblioteca livre ali naquele pedaço de paraíso. Ele aceitou na hora. Na segunda vez que fomos ao Sítio Vanessa, montamos a biblioteca, que começou numa caixa de feira e depois ganhou um armário restaurado pelo próprio Edemilson para receber mais livros e muitos leitores.
Montamos um blog para a Biblioteca Comunitária Sítio Vanessa para arrecadar livros e também para partilhar essa nossa experiência de montar uma biblioteca livre que seria mantida por nós com doações e utilizada pelas pessoas que visitassem o sítio e para a comunidade do entorno. O blog começou a chamar a atenção de pessoas que também tinham bibliotecas ou projetos de incentivo à leitura e que nos faziam várias perguntas sobre como conseguir mais livros para suas bibliotecas comunitárias, procurando ideias de estantes, de como organizar o espaço de uma biblioteca, de como chamar a atenção dos leitores, onde fazer um carimbo e aí por diante…
Como as pessoas vinham nos mostrar as suas bibliotecas e projetos, eu achei que elas deveriam ser divulgadas em algum lugar. Eu já havia recebido uma boa demanda de perguntas e questionamentos sobre bibliotecas comunitárias e livres, concluí que seria interessante respondê-las de forma aberta em outro canto da internet, porque senão deixaria de ser o blog da Biblioteca Comunitária Sítio Vanessa para se tornar outra coisa. Assim surgiu o blog Bibliotecas do Brasil. A nossa ideia desde o começo foi a de dar voz para as várias modalidades de bibliotecas existentes no Brasil, tenham ela um, dois ou milhares de leitores, a gente quis mostrar para as pessoas o que estava chegando em nosso email todos os dias. E estamos nesse ritmo até hoje.
Fórum – Como vocês trazem visibilidade para as bibliotecas comunitárias e autores independentes?
Daniele – Naquela época quase não haviam notícias em grandes portais de notícias falando de bibliotecas comunitárias, bibliotecas livres, de clubes de leitura, de saraus, de ações de livros livres e encontros que envolvessem os livros e a leitura. Nós até hoje sempre damos preferência aos projetos que estejam precisando de divulgação e que ainda não tenham sido conhecidos pelos grandes portais de notícia ou de televisão, para ajudá-los com um pontapé inicial. Assim criamos o nosso próprio conteúdo que é tarefa fundamental para nós – ao invés de simplesmente reproduzir conteúdo -, nós fazemos as nossas próprias descobertas e ajudamos aqueles que estão entrando agora nesse mundo incrível das ações de incentivo à leitura. O que fazemos é muito mais do que apenas compartilhar matérias de grandes portais de divulgação. Nós produzimos notícias, nós vamos atrás do que é novo e interessante. Nós damos voz para aqueles que já estão fazendo na prática os livros chegarem às mãos dos leitores. Muitos projetos, bibliotecas livres e comunitárias se tornaram conhecidos através do nosso blog e ficamos muito felizes quando as pessoas se unem e juntam forças através de suas iniciativas se conhecendo através do blog Bibliotecas do Brasil, porque sentimos que alcançamos uma importante realização com o site, que é projetar as iniciativas brilhantes que vamos encontrando pelo caminho.
Juliano Rocha, Dona Josefa, Edemilson Pereira e Daniele Carneiro - Criação da Biblioteca Comunitária Sítio Vanessa
Fórum – Está rolando a campanha #LeiaMaisMulheres ou #LeiaMulheres e isso tem tudo a ver com a falta de espaço e visibilidade das mulheres no mercado. O que você pensa disso?
Daniele – O movimento #LeiaMulheres foi de extrema importância para que eu reavaliasse a minha estante e direcionasse as minhas leituras. Passei 2015 lendo muitas mulheres, cerca de 13 autoras brasileiras e estrangeiras. No momento estou lendo o livro que com certeza será o mais marcante do meu ano, Um Defeito de Cor de Ana Maria Gonçalves. Tem sido uma leitura intensa e tem me absorvido completamente, com certeza o livro que mais falou comigo esse ano, porque ali estão as faces da História do Brasil que não nos são apresentadas em outras leituras ou nos anos escolares e que deveriam ser priorizadas sempre. É um livro impactante e importantíssimo, que deveria estar em destaque nas livrarias e também nas bibliotecas. Eu me senti muito inspirada através do Twitter, do YouTube e do Instagram por mulheres que compartilham suas leituras e me interessei em buscar autoras negras para ler. E me apaixonei pela história de Harriet Tubman, mas até hoje não consegui encontrar um livro sequer traduzido para o português sobre a vida dela, se é que existe algum. Harriet Tubman nasceu na escravidão em Maryland. Mas ela conseguiu escapar, tornou-se uma abolicionista e fez 30 missões antes de estourar a guerra civil norte-americana para resgatar seus familiares e demais famílias que estavam sob o domínio da escravidão usando a Underground Railroad, uma rede de rotas secretas e esconderijos usados para a fuga para os estados livres e para o Canadá. Ela conseguiu libertar centenas de pessoas da escravidão. A história dela é incrível, ela se rebelou e foi destemida para voltar dezenas de vezes ao lugar onde teve sua humanidade negada para salvar outras pessoas. Infelizmente não há material em português sobre ela, o que é lamentável.
Recentemente divulgamos um artigo do blog Blogueiras Negras no nosso perfil do Facebook e na newsletter que nos trouxe a seguinte questão: ‘Quantas autoras negras você já leu?‘ e começamos a compartilhar aquele post e a incentivar que as bibliotecas e livrarias providenciassem uma estante onde as autoras negras fossem facilmente localizadas para facilitar o acesso de quem quer e precisa ler seus livros e que nossas estantes não fossem desprovidas das palavras dessas mulheres. Nós incentivamos todos que nos leem a incluir essas autoras na sua lista de leitura e desfrutar cada linha delas.
Fórum – O que vocês pensam sobre o mercado editorial hoje? Vocês têm críticas ou análises?
Daniele – Sobre o mercado editorial, é só pegar o catálogo de lançamentos de qualquer editora e ver quantas são mulheres. E dessas mulheres, quantas são negras? Ainda bem que a gente está vivendo numa época em que podemos produzir nossos próprios livros, criar nossas próprias ilustrações e quadrinhos, nos autopublicar e vender. Não é fácil, mas é possível; não é ideal para pagar todas as contas, mas existe a possibilidade de se publicar, de ver ser o seu trabalho concretizado e isso abre oportunidades para muita gente que jamais teria chance em uma grande editora de ter sua voz ouvida. Eu gostaria muito de ver mulheres moradoras da periferia de Curitiba escrevendo, publicando e tendo suas vozes ouvidas. Os autores independentes geralmente abordam temas que não são usuais de se encontrar nos livros das grandes editoras e essa é uma das características que me leva a comprar livros independentes ou de literatura marginal. Eu ainda não vi nenhum livro do Ferréz no estande de entrada de alguma livraria, o que é de se lamentar muito, e só conheci o livro ‘Presos que Menstruam’ da Nana Queiróz porque tenho o hábito de fuçar nas estantes de livros de sociologia. Pra mim eram esses livros que deveriam estar à vista de qualquer pessoa que entre numa livraria.
Juliano Rocha pintando as capas dos livros cartoneros
Fórum – E no trabalho de vocês, como ficam as questões de Direitos humanos, temas como racismo e homofobia?
Daniele – Desde que o blog teve o seu início nós sempre demos preferência para projetos que têm como objetivo a valorização e resgate dos direitos humanos.
O combate ao racismo e à homofobia estão sempre presentes em nosso blog e em nossas newsletters, assim como as lutas feministas, os direitos dos moradores de rua e a necessidade de discutir as questões de gênero na escola. Nós passamos a trazer com maior frequência os nossos pensamentos de forma enfática nas newsletters no ano passado, quando pessoas que conhecemos pessoalmente naquele período reproduziram piadas racistas e sobre estupro na nossa presença. Elas contam e riem e aguardam que a gente dê risada junto. Isso é ultrajante. Nós precisamos nos posicionar e não aceitar esse tipo de piada, olhar na cara de quem as conta e dizer: eu não rio de piada de estupro, eu não rio de racismo. Com isso imediatamente passamos a incluir um maior número de postagens focadas no combate ao racismo, no fortalecimento das lutas feministas e postagens que fazem com que as pessoas reflitam sobre injustiças sociais, preconceitos e repensem suas atitudes, comportamentos e privilégios. Temos muitos preconceitos embutidos em nossas mentes desde pequenos e temos que combatê-los.
Esse ano, nós passamos a focar na divulgação de autoras negras que estamos lendo através das newsletters, de autores independentes da periferia como o Wesley Barbosa do Capão Redondo, que nos cedeu um conto do primeiro livro dele que será lançado em breve para que publicássemos em primeiríssima mão no blog, e continuamos a publicar assuntos que aos nossos olhos vão fortalecer as causas com as quais nos identificamos. O blog Bibliotecas do Brasil está de portas abertas para novos autores e autoras independentes, das regiões periféricas das cidades, que estejam começando agora, ou que já estejam na estrada há bastante tempo, mas que ainda não tenham conseguido divulgação.
Passamos a levar essas questões sobre direitos humanos para as newsletters, onde temos maior liberdade em conversar com nossos leitores e leitoras e demonstrar como alguns hábitos e atitudes tomadas diariamente podem ser consideradas excludentes. Se virmos alguma situação que nos causa revolta, buscamos ler sobre o assunto e tentamos combater aquilo trazendo informação e conhecimento. Quando um atirador branco perpetrou o ataque terrorista com motivação racista à AME Church em Charleston que dizimou a vida de 9 pessoas nos Estados Unidos, nós fizemos um especial em nossa newsletter sobre Martin Luther King, que durante o Movimento dos Direitos Civis nos anos 1960 esteve presente nesse local, que foi um ponto de parada dos líderes do movimento. Nessa newsletter, nós fizemos cerca de 30 indicações de livros, notícias, filmes, séries e pessoas a serem conhecidas e que abordam o tema racismo.
Fórum – Qual a relação desses temas com o acesso à leitura?
Daniele – No campo das bibliotecas, nós sempre estamos pesquisando espaços de diversidade para mostrar no blog. Um dos posts de maior sucesso é sobre a minibiblioteca (Little Free Library) da Equality House, uma ONG norte-americana que serve como um símbolo de paz e mudança positiva para a comunidade LGBT. A ONG, baseada em Topeka, Kansas, nos Estados Unidos é uma casa pintada nas cores da bandeira do orgulho gay, está localizada em frente a Westboro Baptist Church – uma igreja que tem ideologia extrema e propaga a intolerância e o ódio contra pessoas LGBTs, é amplamente conhecida por promover piquetes vergonhosos em frente de funerais de soldados, de vítimas de crimes e pessoas conhecidas.
Mas é claro que estamos sempre em busca de iniciativas próximas da gente, aqui no Brasil, que tenham a diversidade como foco, porque entendemos que as bibliotecas são espaços onde devemos encontrar as ferramentas para combater e derrubar os preconceitos, começando por nós mesmos. A Biblioteca Feminista Cora Coralina em São Paulo é um exemplo de biblioteca que queremos conhecer de perto, vimos vários vídeos e lemos artigos sobre ela, e é incrível constatar o que uma biblioteca pública pode transformar em sua comunidade.
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