A humanidade refletida em 40 páginas

3.5.15


Nessas andanças que fazemos quase diariamente por livrarias e bibliotecas, sempre paramos um tempo na sessão de livros infantis. Fazemos essa parada pois hoje os livros infantis publicados possuem um peso filosófico que auxiliará a desenvolver o pensamento crítico desde muito cedo nas crianças, a arte neles é muito bem feita e conversa com várias fases da História da Arte. O livro que mais me pegou essa semana foi um livrinho de apenas 40 páginas chamado Seis Homens do autor David Mckee.


No livro é contada a história de seis homens que procuravam um terreno onde pudessem cultivar sua plantação e construir uma casa segura, e após muito procurar, encontram o lugar ideal que prospera, gera lucros e eles ficam com medo de perder essa recém adquirida riqueza. Eles contratam guardas para cuidarem de sua fazenda, mas ficam gananciosos e começam a achar que seus vizinhos estão querendo roubar a riqueza deles, então resolvem atacar esses vizinhos que não possuem guardas e daí para frente a história se desenvolve.

O que fica bem evidente no livro é aquele traço obscuro e constante na natureza humana da ganância e da sede de acumular dinheiro, poder, empregados, enfim, tudo aquilo que traz status. O número de guerras lutadas pelos antes escravos, depois camponeses, hoje pobres, que começou com a vontade de pegar aquele excesso de terra que foi visto na terra vizinha é imenso. Isso quando a sede de exercer seu poder sobre as crenças do próximo não começou outras tantas batalhas sangrentas.
Em nosso dia a dia somos levados a cair na roda viva de correr atrás das riquezas que a mídia diz que são tão indispensáveis, e muitas vezes o caminho que se apresenta é o de tomar atitudes que impõe nossas vontades sobre o outro. Essa visão de que o meu caminho é mais precioso, o meu direito em possuir um novo equipamento eletrônico é maior que o seu é que desumaniza as cidades que vivemos. Fechadas no trânsito, buzinas, xingamentos e correria para chegar primeiro são ramificações desse conteúdo obscuro que reside dentro dos seres humanos.


Mas - e ainda bem que existe esse ‘mas’- a humanidade não teria chegado tão longe quanto chegamos não fosse uma outra parte daquilo que nos constitui: a empatia. Essa pequena qualidade presente na maioria da humanidade, nos permitiu brecar essa constante corrida de tempos em tempos para doar algo para o bem comum. Lembra daquele momento em que tirou alguns minutos para recolher o saco de salgadinho que estava rolando pela calçada e depositou no lixo? E aquela vez que escolheu um livro que você comprou em vezes no cartão em um mês apertado, mas que já tinha lido e o doou para uma biblioteca livre? Ainda teve aquela outra tarde que você esquentou um prato de comida deliciosa preparado por quem você ama e levou para o morador de rua que dorme na esquina de casa, lembra disso?

Nesses momentos o que estava atuando era a sua humanidade, aquela peça que manteve esse castelo de Lego tortuoso e alto sem espatifar-se no solo da História. Esse prazer despertado por pequenas boas ações nos mantém juntos e funcionando, apesar das violências vistas no mundo, nós conseguimos nos manter longe da aniquilação e até melhorar aspectos da vida em conjunto que antes eram sub-humanas. Mas esse caminho é longo e constante, portanto o exercício de empatia deve ser praticado diariamente para que o local onde vivemos possa evoluir, deixar de ser uma massa cinza e barulhenta, e aos poucos ir rumo à cor e ao canto dos pássaros e um sorridente bom-dia.

* Esse texto foi publicado na newsletter Bibliotecas do Brasil Inbox #20, enviada para nossos assinantes em 25/08/2014. Compartilhamos com nossos leitores para dar um gostinho do conteúdo semanal que enviamos, sempre com textos inéditos sobre diversos temas culturais, com um foco voltado para partilha de livros, bibliotecas atuantes, projetos de incentivo à leitura inspiradores e iniciativas para conhecer e acompanhar.
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Texto e arte: Juliano Rocha sobre arte de DougitDesign
Bibliotecas do Brasil - contato@bibliotecasdobrasil.com
Fotos: Divulgação e B is for Books

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