Notas de Viagem de Luis Costa

10.1.15

Em 2015 vamos dedicar o ano à literatura no blog Bibliotecas do Brasil, principalmente aos novos autores que estão surgindo. Para começar nós trouxemos o nosso amigo Luis Costa que há muito tempo publica seus escritos no Facebook, mas agora em 2015 vai se dedicar a escrever seu primeiro livro. Essa é apenas uma pequena parte das crônicas e do humor do Luis que atualmente mora em Berlim. Em 2015 Luis pretende "ler 6 classicões (desses pesadões mesmo, que intimidam); terminar de ler os livros que tenho sobre Berlim/Alemanha; e escrever 1 página por semana da minha epopéia (essa que vocês me incentivaram a escrever)".


1 - Quando se mora no exterior e se vive em outra língua, a parte do cérebro que fala português, sentindo-se preterida, junta as coisas e muda-se lá para as fronteiras do tímpano, onde reside calma, silenciosa - - mas alerta. Até que um dia, andando na rua, ela capta uns ruídos conhecidos, procura ao redor e reconhece-se na boca de algum turista, que diz: "tem certeza, Fabiana?". E todo o seu cérebro mobiliza-se em função de escutar a conversa. Se estou no ônibus, sento-me mais próximo; se estou na rua, sigo por algumas quadras; e vou acompanhando aqueles fragmentos de conversa, que registro, anoto. Quando chego em casa, digo: "voce não sabe o que escutei hoje!". E o ponto em que quero chegar é que, estando no Brasil e só ouvindo português por todos os lados, minha mente anda um pouco confusa.

2 - Não sei como funciona no restante do Brasil, mas aqui, no Rio de Janeiro, os prédios não tem apenas números: eles todos também tem nomes. Dos mais inusitados, nas mais diversas línguas. Meu passatempo agora é ficar andando pela cidade, anotando os nomes dos prédios em um caderninho. Os de Copacabana são especiais. Meu favorito segue sendo um ali na Rua da Passagem, que se anuncia em letras garrafaias: PALAZZO DI SHANGRI LA.

3 - Dezembro. Verão no Rio de Janeiro. Voltando para casa á noite, pela praia de Ipanema, olho em direção ao Atlantico e vejo o oceano, a areia, os coqueirais. Olho para o lado oposto, para dentro dos apartamentos iluminados e vejo imensos pinheiros, cheios de luzes, enrolados em imensas tiras felpudas simulando neve. O relógio na rua marca 32 graus. Olho para a esquerda, para a direita: coqueirais, pinheirinhos, coqueirais, dinheirinhos. Decidi que, quando voltar a morar em Brasilia, na época do Natal vou iluminar uma Palmeira, um Ipe, uma Garapa, um Urucum.

4 - O Brasil é superior á Alemanha na Industria-do-Banho. Lá, as duchas não tem essa força, potência, alcance, que encontro aqui. Fui neste momento mesmo ao banheiro e fiz um video de um chuveiro carioca em ação. Voltando a Berlim, encaminharei a mídia ao meu proprietário, com uma nota: "EU QUERO ISSO".5 - Dizem que a melhor coisa do Brasil são as praias. BALELA! A melhor coisa do Brasil são os profissionais da área de odontologia. Por isso, em vez de tirar uma foto de minhas pernas desnudas, encobertas por uma sunga, oceano ao fundo; resolvi retratar meus pés ostentando uma sapatilha sanitária no consultório do Dr. Silvio.

5 - Dizem que a melhor coisa do Brasil são as praias. BALELA! A melhor coisa do Brasil são os profissionais da área de odontologia. Por isso, em vez de tirar uma foto de minhas pernas desnudas, encobertas por uma sunga, oceano ao fundo; resolvi retratar meus pés ostentando uma sapatilha sanitária no consultório do Dr. Silvio.


6 – A topografia das calçadas desta cidade (todas calombadas, onduladas) é prova de que a batalha entre natureza e civilização anda muito equilibrada no Rio de Janeiro. A prefeitura cerca as árvores, nivela a rua, pavimenta, cobre de pedras portuguesas e paralelepípedos; mas as árvores mantêm-se indiferentes e seguem crescendo, aumentando suas raízes e destruindo tudo que encontram pela frente. De vez em quando, andando pela calçada, é possível encontrar uma imensa árvore obstruindo o caminho. Aí você abaixa a cabeça humilde e faz o contorno pelo meio fio.

7 – Ainda sobre o tema natureza - - Já vi gente indignada com a maneira como o Brasil é retratado no exterior: “pensam que há macacos no meio da urbes!”. Pois saibam: no Rio de Janeiro, há macacos no meio da urbes. No caso, micos, que habitam grotões verdes espalhados pela cidade. Quando morei na Gávea, se deixássemos a varanda aberta, os símios entravam e faziam a festa. Em Ipanema, lembro-me deles escalando a (ex-)churrascaria Mariu’s e assaltando a horta no terraço. Só não vejo como isso possa ser motivo de vergonha. Tudo que demonstra é que somos capazes de conviver com outras espécies, o que deveria ser uma espécie de orgulho. Tenho tido sorte de morar nessas cidades com faunas tão abundantes: na Índia, eram macacos pulando no telhado e pavões gritando abaixo de minha janela no trabalho; em Berlim, é comum ver raposas e javalis circulando livremente pela cidade. Portanto, da próxima vez que acusarem o Brasil de ter macacos na rua, retruque: “e não se esqueça que também temos porco-espinho!”. Abracemos nossas capivaras!

8 – Passando de taxi ontem pelo Jardim de Alá (que separa Ipanema do Leblon), parei para pensar pela primeira vez: “por quê Jardim de Alá? Qual a relação deste canal com o islamismo?”. Parece que nenhuma. O Google me diz que o projeto coincidiu com o lançamento do filme “The Garden of Allah” (1936, com Marlene Dietrich) e é isso: o nome pegou. O Wikipédia foi além e me disse que o filme também inspirou o nome de um cabaret gay em Seattle, que funcionou nos anos 40 e 50 (desses com strip-tease e show de travesti). Meus olhos leram essas informações, mas o que minha mente processou foi: “TUDO ESTÁ RELACIONADO”.

9 – Ainda vejo paredes chapinhadas pela cidade. Não são bonitas nem confortáveis nem fáceis de limpar. Dou meu voto pelo seu ocaso.

10 – Há alguns guardanapos que não servem para a função a qual foram desenhados: a função de guardanapos. Notei ser essa a tradição imutável de boa parte dos botecos em que o guardanapo é uma espécie de papel amanteigado mais grossinho, que não consegue executar as funções de: a) limpar a boca; b) sugar a gordura do alimento; ou c) isolar o calor do alimento. Então, qual o propósito? Suponho haver alguma espécie de argumento econômico, do tipo “mas é mais barato”, o que não me convence: pois o cliente, frustrado com a disfunção do guardanapo, enfia os dedos todos naquela lata de alumínio e puxa logo um chumaço de papéis aplasticados - - na esperança de que talvez o guardanapo passará a milagrosamente funcionar, caso você junte uma dezena deles.

11 – Nas casas brasileiras, os chãos são encerados e brilham. O sinteco ainda não chegou à Alemanha, onde o assoalho é nu e arranha, suja, mancha com facilidade. Que felicidade é derramar vinho tinto sobre cera: qualquer paninho úmido resolve.

12 - Muitas pessoas por aqui não se incomodam de compartilhar detalhes íntimos da própria vida e, por tabelinha, também não se sentem minimamente constrangidas em invadir sua privacidade. Se ligo para as pessoas, mesmo desconhecidas, não recebo apenas a informação de que quem quero contatar não se encontra; fazem também questão de me fornecerem o histórico completo: “saiu rapidinho para buscar uma encomenda ali na farmácia para minha diverticulite e depois ficou de visitar a tia Almira no hospital, tadinha, caiu da escada, quebrou a bacia, agora está cheia de problema, tendo que fazer exame, uns exames invasivos, você não sabe como está sendo difícil para ela, agora me diz: VOCÊ JÁ FEZ UMA COLONOSCOPIA?”. (não, nunca fiz uma colonoscopia).

13 – Sei que o Brasil tem muitos problemas e que qualquer sugestão de investimento meramente estético deve soar superficial. Ainda assim: fios elétricos pendurados em postes ainda fazem sentido? Lembro-me que, há uns dez anos, andaram furando a cidade toda para fazer correr fios de internet; será que não dava para pedir licença e escorregar os fios elétricos por ali? No longo prazo, deve haver alguma compensação financeira (pense nos fios protegidos da chuva). Só não sei como ficaria a questão dos “gatos”: terminariam relegados ao fundo da terra, ao alcance somente das toupeiras; ou os larápios esburacariam a cidade toda de volta em sua busca, numa espécie de caça ao tesouro?
continua.

14 - Uma coisa é inegável: a cidade é muito, muito, mas muito bonita.


15 – Passeando pela orla de Ipanema, fiquei encantado ao ver que, a cada 10 passos, há coqueirais carregados de imensos cocos verdinhos. Para celebrar e admirar essa exuberância da natureza, decidi caminhar ao quiosque mais próximo para tomar uma água de coco. Ocorre que, no caminho, considerei: “mas ué, para que comprar um coco se há tantos aí dando sopa?”. Aceitei o desafio e decidi caçar meu próprio coco! Escolhi uma árvore não muito alta e encoxei brutalmente o tronco. Usando as pernas como ponto de estabilidade, fui alavancando o corpo para cima com as mãos até chegar à copa da árvore, onde se encontrava o celebrado premio: o coco! Um pequeno grupo de curiosos não pareceu particularmente impressionado e logo se dissipou. Apesar do breve entusiasmo que circulou pelo meu corpo, não custou muito para dar-me conta de um ponto que eu não havia considerado antes. Como abrir o coco? Pelo que me lembrava da infância, os vendedores de coco costumavam golpeá-los com imensos facões. Eu não estava em posse de imensos facões. Considerei utilizar um saca-rolhas para tentar resgatar o líquido, mas, sendo uma pessoa normal, também estava subtraído de meu canivete. Em um lampejo de desespero, aventei quebrar o coco com alguma espécie de arremesso brutal, mas minha mente gritou: “NÃO ARREBENTE A SAPUCAIA!”. O que é uma sapucaia? Desisti do empreendimento - apenas pelo momento - e cedi à conveniência do quiosque. Mas saibam: isso não terminará assim!

16 – De manhã, do décimo andar, de olhos fechados, de janela fechada, posso concluir: as pessoas na rua curtem muito apertar uma buzina.
continua.

17 – A buzina não é o único som que vem me acompanhando. Ouço gritos: ambulantes gritando uns com os outros, ambulantes gritando com você (“vem perder a virgindade, novinho!”). Ouço fogos de artifício e não compreendo o propósito (não vêm acompanhados de luzes). Ouço também música alta, vinda de todos os cantos, dos lados, de cima, dos poros da terra. Música que às vezes faz o chão tremer. É como se as pessoas tivessem um vazio existencial que precisasse ser preenchido com essa música. E palmas. As pessoas gostam muito de bater palmas! Quando o avião pousa, quando o sol se põe, quando desejam externar felicidade. Só que as pessoas devem ser muito felizes, pois muitas são as palmas. Jantando ontem, na casa de amigos que moram no Baixo Gávea, não parava de ouvir palmas; mas quando eu corria para a janela, não percebia o acontecimento. Até no metrô ouvi palmas. Em Berlim, quando alguém toca música no metrô, as pessoas ficam furiosas, ignoram, alegam que um suposto artista em posse de uma caixa de som não tem o direito de invadir o silêncio de outras 100 pessoas; no Rio de Janeiro, as pessoas batem palmas.

18 – Em alguns bairros, é como se sempre chovesse. Isso, pois todos os prédios ligam o ar condicionado, que faz cair gotas, imensas gotas, gotas com um volume inigualável a nenhuma outra gota. Gotas que estouram no seu ombro, na sua testa, no seu óculos. Percebi isso no Centro, mas sobretudo em Copacabana. Em Copacabana, há aquela multiplicidade de pequenos apartamentos, cada um com seu aparelho de refrigeração; todos fazendo chover sobre as calçadas minúsculas. Não há para onde fugir das gotas.

19 – Marquei de rever uma amiga que já não via há pelo menos quatro anos. Éramos colegas de faculdade e, durante anos, devia ir com uma frequência quase semanal a sua casa. Por isso, quando marcamos de nos encontrar lá mesmo, prescindi de solicitar o endereço. Afinal, sabia o quarteirão e lembrava-me exatamente da entrada do prédio: à esquerda, a garagem; à direita, um corredor estreito que culmina em uma portaria. Só não contava com a possibilidade de que todos os prédios da rua teriam exatamente a mesma formatação. E, como estava sem telefone, apelei para a única via possível: solicitei socorro aos porteiros, essa figura que, tendo como base de operações uma portaria, é dotada das atribuições de abrir portas, receber correspondências e lidar com as frustrações diárias dos moradores. “MOÇO, TEM CRISTINA MORANDO AÍ?”, fui berrando de grade em grade. Até que, uma hora, deixaram-me subir: “Cristina? Só tocar no 302”. Mas não era a minha Cristina, era A OUTRA CRISTINA DA RUA, que mesmo levemente atordoada com minha presença em sua soleira, compadeceu-se com o acabrunho que deixei transparecer (“POBRE DESORIENTADO!”). Tomei uma portada nas fuças, mas segui obstinado, de prédio em prédio, de grito em grito. Ao final da rua – como era de ser – LOGREI!

20 – O elevador do meu trabalho em Berlim tem capacidade para 11 pessoas ou 825kg. O elevador da casa da minha mãe no Rio de Janeiro tem capacidade para 11 pessoas ou 770kg. De que deduzo que um alemão pesa, em média, 5kg a mais do que um brasileiro.
continua.

21 - Um dos maiores programas turísticos em Berlim é sair para beber cerveja alemã e falar mal da cerveja brasileira. Ouço muitas críticas, sobretudo por a cerveja brasileira ser de milho ("milheja"), o que sequer a caracterizaria como cerveja na Alemanha (seria algo como "tipo-cerveja"). Mesmo com a má impressão na cabeça, fui tirar a prova e não achei a cerveja brasileira nada má. Tomei Devassa ("ruiva" e "indiana"), Cerpa e Brahma; todas mais que satisfatórias. São bem mais leves do que as alemãs e, diferentemente das de lá, vêm servidas em copinhos refrigerados e em temperaturas que oscilam entre os graus "estupidamente gelada" e "cu de foca". Combinam bem com o clima da cidade. Achei uma delícia e tomei uma boa duzia sem culpa alguma.

22 - Dizem que brasileiro não gosta de ler, mas fui algumas vezes a livrarias e estavam todas bem cheias. Conheço pouco de literatura contemporânea brasileira, então não posso opinar muito. Mas, ao menos na área de não-ficção, há muita coisa boa e interessante sendo lançada. As traduções estão saindo com uma defasagem um pouco grande com relação aos originais - mas os originais estão à venda para quem estiver disposto a pagar o preço de um livro importado. Há traduções e reedições primorosas e fiquei chateado de não poder carregar mais coisa. Estou até levando uns volumes meio pesados que nem sei se deveria, como uma edição comemorativa de "Os Sertões" da Ateliê Editora; e traduções recentes de "Dom Quixote" (Ernani Ssó) e de "Contos da Cantuária" (José Francisco Botelho), ambas muito elogiadas, ambas da Penguim. Minha única crítica, na verdade, é que as edições brasileiras são tão boas que sinto falta de edições ruins: aquelas de bolso, com capa mole, papel vagabundo, sem arte sem nada; e que, ao mesmo tempo, sejam mais acessíveis. A L&PM, a Cia das Letras, a Martin Claret, a Penguim, todas estão tentando cumprir esse papel, mas ainda não chegamos lá. Queremos o catálogo mais vasto ao menor preço possível: o primeiro que chegar lá terá em mim um cliente fiel.

23 - Circulando pela praça de alimentação, ouvi um diálogo muito sincero no balcão da "Vivenda do Camarão".

- Cliente: "Qual prato é melhor, hein, camarão à baiana ou moqueca de camarão?"
- Vendedor: "Os dois são péssimos. Se eu fosse você, pegava o risoto, que é menor pior."
- Cliente: "Vou de moqueca então."
Sigo cada vez mais certo de que a maior parte das pessoas pede opinião só por pedir mesmo.

24 - Mesmo em 50 tons de cinza, a cidade segue sendo um bocado bonita de se ver.


25 - A melhor coisa do mundo é comida boa; a segunda melhor, é comida ruim. No Brasil, ambas são ótimas. Quando falei que estava de dieta para vir (perdi 7kg), chamaram-me de exagerado. Mas uma das principais maneiras que um carioca tem para demonstrar afeto é com a oferta de alimentos (café-da-manhã, almoço, jantar, "um bolinho"), e tenho aceitado tudo de muito bom grado. No momento, minhas vísceras chegam a estar até meio incomodadas; meu estômago parece fusca de palhaço.

26 - Aprendi muitas gírias novas, mas minhas preferidas são relacionadas a "borracha", que parece ser a maneira como os jovens andam designando o órgão masculino. Até onde entendi, uma "BORRACHADA" equivale ao coito; e um rapaz "BORRACHA FRACA" sofre de alguma espécie de disfunção erétil.

27 - Sei que é natural do ser humano buscar motivos para reclamar, mas não entendo como o clima da cidade virou tópico. Salvo alguns extremos, o ano todo oscila entre mínima de 20 e máxima de 30 graus (sempre acompanhados de uma brisa gostosa que vem da praia). O traje típico é camiseta + "agasalho" para eventual "friagem". Noto pessoas de sunga mesmo em regiões muito distantes da praia. Às vezes, é claro, o clima esquenta muito; mas há ar-condicionado por todo canto & tão potentes que é mais comum passar frio do que calor. Uma amiga minha diz que no Rio de Janeiro há apenas duas estações: verão e frente fria. Se não há para onde fugir, entregue-se.

28 - Minha terra tem palmeiras e goma de tapioca hidratada.

29 - Toda grande jornada termina com as aventuras do retorno. Mas o meu foi xôxo e indigno de nota. Havia pago/pagado (nunca sei) um pouco mais pelo assento "LEG PLUS", na saída de emergência, mas acabei cedendo-o a uma senhora - um pouco atrevida, até -, que estava com o pé torcido e podia provar ("estou com o pé torcido e posso provar!"). Minha boa ação foi imediatamente recompensada pelas forças da providência, pois, do meu posto de observação na 33J, pude verificar que o referido espaço para pernas do assento "LEG PLUS" nada mais era do que uma espécie de ante-sala para para os 4 banheiros centrais do avião: um vasto espaço recreativo onde os passageiros vão para esticar as pernas, conversar, ninar bebês e enfileirar-se para o uso dos sanitários. Ou seja: um reino de distrações, cheio de movimento e barulho, com vista para o banheiro (e cheiro de banheiro; ruídos de descarga a vácuo) e pessoas tropeçando no seu pé. Os alemães usam muito uma palavra chamada "shadenfreude", para designar o sentimento de prazer ao ver infortúnio alheio; mas o que senti foi mais o alívio de ter acontecido com outra pessoa e não comigo. Na paz e tranquilidade ao lado de um casal silencioso, tirei sonecas e assisti Nebraska, American Hustle e Rise of the Planet of the Apes. Ninguém pisou no meu pé.
fim.
(mas ainda boto um posfácio, peraí)

30 - cafezinho no ombro

Fotos: Luis Costa

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