Exposição Ron Mueck na Pinacoteca de São Paulo
3.1.15
Neste estudo descobre-se como as pessoas interagem, seu lado violento que pode ser escondido por uma falsa aparência de calma, suas angústias de estarem muitas vezes solitárias em meio a um mar de gente. Os problemas da vida urbana dos séculos XX e XXI estão ali, esperando por nossa visita, onde não só observamos obras, mas olhamos para dentro de nossas próprias almas e analisamos nossas vidas, nossos desejos e medos.
A primeira parada cultural de nossa viagem para São Paulo foi na Pinacoteca do Estado de São Paulo, um prédio antigo que passou por uma reforma e possui aquela belíssima mistura do novo e do antigo. Em suas paredes os tijolos estão à mostra e a remodelação do espaço para abrigar um museu moderno funcionou perfeitamente, com grandes espaços e um ambiente tranquilo para mergulhar em uma exposição artística.
Fotos: Juliano Rocha e Daniele Carneiro - Bibliotecas do Brasil
Ficamos por volta de 40 minutos na fila do final do dia e apesar do grande número de pessoas conseguimos observar boa parte das obras expostas no nosso tempo sem grandes problemas após a maioria das pessoas já terem tirado sua foto da obra e ido para outra sala. Só não foi possível ver o documentário Still Life que mostra como o artista australiano faz suas esculturas pois a sala de projeção estava muito lotada, mas parte de seu processo pode ser visto no vídeo da Fundação Cartier que concebeu a exposição que agora viaja o mundo.
Quando observadas pela primeira vez as obras de Ron Mueck causam um impacto, primeiro pelo tamanho, ou são menores do que se esperava ou maiores do que conseguimos racionalizar que algo tão detalhado, humano e real possa ter aquela magnitude, por um momento pode-se pensar que estamos na presença de gigantes. A tensão dos músculos, os olhares perdidos e pequenos gestos trazem o pensamento das obras à tona, tornando a observação delas uma revelação constante de motivos e desejos escondidos por trás de uma aparente calma.
Uma das obras mais curiosas, pela interação do público com ela, é a desse homem nu e sozinho em um barco, que olha desafiadoramente para o público, com aquela expressão de estar observando um animal curioso em um zoológico. E o mais estranho foi ver a maioria das pessoas ficando na ponta dos pés para ver se ele estava realmente pelado dentro do barco, imagino que Mueck deixou o barco em uma posição mais elevada justamente para criar esse deslocamento voyeurístico de quem visita a exposição.
E ao final encontramos esse casal de velhinhos, serenamente descansando na praia, com um tamanho monumental que permite que o menor dos detalhes seja observado, desde o olhar descansado para o horizonte do senhor, até o olhar apaixonado e feliz da senhora que olha para seu marido. A sensação que preenche todo o salão iluminado pela luz do sol da Pinacoteca é de calma. Aquela calma que chegou após uma vida inteira de problemas e alegrias, e trouxe uma cumplicidade inquebrável para esse casal que agora descansa. Sua serenidade parece vir do fato de que o medo da morte já não os assombra mais, em suas expressões podemos sentir que eles sabem que suas vidas estão mais próximas de um final e que isso deixou de ser um problema. A escultura é uma bela homenagem ao amor de uma vida inteira.
Nos divertimos visitando a Pinacoteca em São Paulo, o espaço é muito bonito, iluminado e agradável de estar presente.
A exposição Ron Mueck na Pinacoteca de São Paulo fica em cartaz até o dia 22 de Fevereiro de 2015. Saiba mais detalhes de nossa viagem para São Paulo em nossa newsletter Bibliotecas do Brasil Inbox, assine nesse link: http://www.bibliotecasdobrasil.com/2014/12/bibliotecas-do-brasil-inbox-36.html
Onde
Ron Mueck na PinacotecaPinacoteca do Estado de São Paulo - Praça da Luz, 2 - São Paulo, SP
www.pinacoteca.org.br
Texto: Juliano Rocha
Fotos: Dani Carneiro e Juliano Rocha - Bibliotecas do Brasil - Licença Creative Commons
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