Centro Cultural Casa de Taipa, Baía Formosa, RN
13.9.13
Centro Cultural Casa de Taipa, esse é o nome do sonho que Carlos Araújo está realizando. Depois de tantos anos colecionando livros, CDs, DVDs, discos de vinil e revistas, chegou a hora de compartilhar o conhecimento que esses belos objetos têm a oferecer com a comunidade da vila de Sagi. A localidade encontra-se na última praia do litoral sul do Rio Grande do Norte, a 98 quilômetros de Natal. A chegada só pode ser feita através de estradas de barro. Não tem sinal de internet e nem de celular. É uma vila do sossego.
Durante a reforma foram acrescentadas mais três janelas para entrar mais luminosidade.
Carlos reformou uma casa de taipa mantendo sua estrutura original, e nela abrigou todo o seu acervo para que crianças, jovens, adultos e idosos tenham acesso a ele: "Quem sabe consiga formar alguns leitores, uma pequena platéia para o teatro e para o cinema, uns bons ouvintes de uma boa música. Esse é o sonho maior. É uma alegria incrível entrar todos os dias na Casa de Taipa no Centro Cultural, e aos poucos acrescentando aquelas obras todas, depois de um longo e intenso trabalho de catalogação. Me emociono ao falar dessa casa, porque é fruto de uma grande expectativa e de um enorme esforço".
Carlos pediu uma força para os amigos através do Facebook, quando faltava pouco para começar. Ele solicitou doações dos amigos para a construção de algumas estantes e a compra de mesas e cadeiras, "além de velhos discmans usados para a turma ouvir os CDs".
Centro Cultural Casa de Taipa com os discos de vinil e livros ao fundo
Ao lado da Casa de Taipa existe esse lugarzinho com um fogão a lenha, feito de taipa. É ali que os visitantes tomam um cafezinho.
Pedro Ivo e Bia foram os grafiteiros de Natal que fizeram a arte para iluminar a parede do Centro Cultural Casa de Taipa. O graffiti representa o mar, a natureza, a amizade e a coletividade. Iemanjá também está representada nessa bela arte, que foi presenciada ao vivo pela comunidade do Sagi, uma grande novidade.
Na biblioteca comunitária os livros são emprestados livremente. O nome do leitor é anotado e a pessoa assina, como forma de um comprometimento com a circulação dos livros. Os frequentadores são jovens e crianças, recém chegados na arte da leitura. Carlos elogia a visita, indico livros e os deixa bem à vontade, para que se acostumem com a biblioteca e sempre voltem.
Em um dia de chuva, Carlos e os frequentadores da Casa de Taipa levaram um susto, de forma inesperada várias goteiras surgiram no centro cultural por causa da instalação de uma antena e o telhado não foi coberto de maneira adequada. Mais de 50 livros foram atingidos pela água do chuva. Carlos contou que: "a pequena tragédia também encharcou a minha alma. Durante dois dias tornei-me médico de livros, tratando cada um com cuidado, virando folhas, secando páginas. Quando surgem dificuldades, como a chuva forte que molhou dezenas de livros, a gente improvisa. Os livros molhados foram secando um a um, com a energia do sol e do vento e também com a tecnologia dos ventiladores, que nessas horas funciona muito bem. Consegui recuperar grande parte deles. Foram curados. A gente aprende com as adversidades E na primeira que o Centro Cultural Casa de Taipa passou, ela foi vencida. O centro cultural tem que cumprir uma missão e essa tem, como a enxurrada provou, proteção dos deuses!"
Livros secando depois da chuva
A Casa de Taipa funciona das 8h até às 18h. A frequência de pessoas é tímida, porque ainda não existe o hábito da leitura em Sagi, uma pequena comunidade de apenas 400 habitantes. Carlos conta que tentou uma aproximação entre o município e o centro cultural: "Procurei as secretarias de educação e cultura da prefeitura de Baía Formosa para tentar uma ajuda, com o seguinte argumento: criei um centro e investi nele com meus recursos próprios. Ou seja, criei um espaço cultural que a prefeitura poderia apoiar conseguindo por exemplo, estagiários, adolescentes que ganhassem uma bolsa para atender a comunidade a Casa de Taipa. Infelizmente, a prefeitura disse que não poderia ajudar".
O fundador do centro cultural está aprendendo a administrar a Casa de Taipa com muitas idéias na cabeça. Tudo é muito novo e o começo é difícil, mas nada que desanime: "A própria carência da comunidade me estimula muito. E uso minhas armas. Onde passo faço uma campanha de doação. Passei por Boa Vista, Roraima, e consegui três caixas de livros, duas de CDs e dois notebooks usados para que a população possa ter contato com essa tecnologia".
O próximo passo agora é estimular o gosto pela leitura. Carlos pretende levar uma contadora de histórias de Natal e reunir a meninada para despertar esse gosto. Ele também está em contato com as escolas do município para levar crianças e adolescentes para conhecer a Casa de Taipa: "Estou tentando conseguir uma bicicleta para levar os livros a outras comunidades próximas de Sagi, como Pituba. Nessa bicicleta um jovem repentista da comunidade com um alto-falante vai ler trechos de poesia e prosa pela vila para a população ouvir e, quem sabe, se interessar em conhecer melhor o poeta ou prosador".
Esse é o pôr-do-sol de Baía Formosa, município norte-riograndense onde está situada a comunidade de Sagi, onde Carlos Araújo resolveu morar e criar o Centro Cultural Casa de Taipa. É um brinde para os olhos e para os amigos que quiserem conhecer o local. Quem ama cultura vai tomar esse banho de sol inesquecível. Como diz o Carlos: "Afinal, cultura 'alumia' a gente, né?"
O acervo da biblioteca comunitária da Casa de Taipa precisa de doações para ser ampliado. A biblioteca aceita livros, gibis, histórias em quadrinhos, DVDs e CDs. A doação de um megafone e de uma bicicleta também serão bem vindas. Quem quiser conhecer melhor o centro cultural é só acessar seu perfil no Facebook: https://www.facebook.com/CentroCulturalCasaDeTaipa
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Daniele Carneiro
contato@bibliotecasdobrasil.com
Fotos: Facebook Centro Cultural Casa de Taipa
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